Fossas sépticas são as unidades responsáveis pelo tratamento primário de esgoto doméstico. Esse sistema pode ser novidade para quem mora nas grandes cidades e tem acesso à rede de esgoto, mas aos moradores da zona rural essa é uma opção recorrente. As fossas sépticas chegam como importantes alternativas para a falta de um tratamento de esgoto adequado.
Sua principal função é separar e transformar (física e quimicamente) os dejetos provenientes de banheiros, cozinhas e lavanderias, de forma segura e sistemática. São processos simples e baratos que apresentam uma solução paliativa para as deficiências sanitárias de certos municípios. As fossas sépticas são vistas como paliativas - ou seja, temporárias - porque o recomendável é existir uma ligação com uma estação de tratamento profissional.
Dados do de 2017 (divulgados em 2020) apontam que 4 em cada 10 municípios brasileiros não apresentavam serviço de esgoto. Esse é um número preocupante e que contextualiza as motivações para a construção contínua de fossas ilegais no país. Além de não serem regularizadas, fossas ilegais são ameaças ativas e podem acarretar em uma gama de prejuízos.
Antes de detalharmos mais a fundo os riscos de uma fossa ilegal, vamos entender melhor como ela funciona, quais os principais modelos disponíveis hoje e qual o tipo mais adequado para instalação. Vem com a gente!
Como já citamos, fossas são soluções paliativas encontradas comumente em zonas rurais ou em residências isoladas. Elas exercem papel essencial na melhoria das condições higiênicas da população e evitam que doenças se proliferem. Sendo um sistema muito popular e de origem primitiva, apresenta nítida evolução nos métodos encontrados em seus diversos modelos.
Nesse artigo, nos aprofundaremos em três dos principais sistemas de fossa, que podem ser utilizados como base para entender outras variedades desse processo. Explicaremos aqui a fossa rudimentar, fossa séptica e a fossa biodigestora. Começaremos com a mais simples entre todas elas:
Fossa rudimentar
Dados da (PNAD), feita pelo em 2019 e divulgada em 2020, mostraram que 9 milhões de domicílios brasileiros indicaram fossas rudimentares, valas, rios, lagos, mar e outras formas de escoadouro como o destino para seus dejetos. Em porcentagem, esse número é compatível com 12,6% dos domicílios do país.
O sistema de uma fossa rudimentar consiste em um buraco aberto no solo para onde se destina todo o esgoto doméstico. Não há nenhum tipo de tratamento envolvido nesse processo e os dejetos são acumulados em seu estado natural. Há uma constante produção de odores desagradáveis e a proliferação de vetores. A falta de cuidados permite que o esgoto contamine o solo, atingindo águas superficiais e subterrâneas.
No Brasil, fossas rudimentares são um sistema proibido em vários municípios, justamente por apresentarem grandes riscos à saúde e ao meio ambiente. Mesmo assim, são um método muito encontrado em zonas carentes de saneamento básico, ameaçando consequentemente populações mais pobres. É importante conscientizar as pessoas e oferecer alternativas que preservem suas condições sanitárias e higiênicas. Para isso, é vital que regiões como essa recebam investimento e uma fiscalização adequada.
Fossa séptica
Ao contrário do que vimos no modelo anterior, as fossas sépticas são projetadas para evitar potenciais riscos. Na de 2019, os dados apontaram 68,3% dos domicílios brasileiros com escoamento do esgoto feito pela rede geral ou fossa séptica ligada à rede geral, enquanto 19,1% apresentaram fossa séptica não ligada à rede geral.
Fossas sépticas são lidas como unidades de tratamento primário do esgoto doméstico, se diferenciando assim das rudimentares que não proporcionam qualquer tipo de tratamento. Seu sistema é composto por etapas que recolhem o esgoto de toda a casa, separam as partes líquidas e sólidas e garantem que as partes líquidas sejam tratadas e filtradas, enquanto as partes sólidas sejam decompostas por bactérias anaeróbicas em um processo chamado decantação.
Tudo começa no primeiro tanque, responsável por receber toda a coleta do esgoto doméstico. Nesse tanque o processo trabalha com a gravidade para separar as partes sólidas e líquidas. Os sólidos ficam depositados no fundo do tanque, enquanto os líquidos se encarregam de enchê-lo. Através de uma válvula de escape, são liberados os gases gerados pela fermentação.
Quando os líquidos atingem certo ponto, são transferidos para um segundo tanque. Aqui temos a etapa de filtração, feita por meio de pedras, cascalho, areia ou meio filtrante. É importante ressaltar que todos os elementos do processo devem ser produzidos por uma empresa especializada, para garantir que todas as etapas sejam cumpridas com sucesso.
O líquido resultante da filtragem é, então, transferido para um terceiro e último tanque, chamado de sumidouro. Aqui o líquido final pode ou ser devolvido ao meio ambiente, ou processado em mais uma etapa de tratamento quando destinado a reutilização como água potável.
Como ressaltamos, todo o equipamento utilizado para a construção e instalação de uma fossa séptica deve ser feito por profissionais. Instalações descuidadas podem dar abertura a possíveis vazamentos. O material trabalhado pelas fossas é extremamente infeccioso, não só para os moradores da região, como para a vida animal e vegetal.
Fossa séptica biodigestora
A fossa biodigestora apresenta sistema similar ao da fossa séptica, garantindo um tratamento primário do esgoto doméstico. Ela também evita que esse esgoto fique exposto e ameace contaminação. Esses sistemas são, na verdade, relativos um ao outro, já que a fossa biodigestora provém do processo da fossa séptica, com algumas adições que favorecem o meio ambiente.
Em 2000, inspirado pelos biodigestores de países asiáticos, o então pesquisador da (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Antonio Pereira Novaes desenvolveu a fossa séptica biodigestora. Enquanto a fossa séptica regular exige uma limpeza frequente com auxílio de empresas especializadas, certificadas e com licença ambiental, as fossas biodigestoras dispensam esse tipo de manutenção.
Nesse sistema temos a presença de biodigestores que transformam o resultado sólido (deixado no primeiro tanque das fossas sépticas) em efluentes recicláveis. Seu descarte pode ser feito por qualquer pessoa já que não apresenta riscos à saúde e nem mau cheiro. É reciclável pois serve de adubo para plantações que não sejam voltadas para o consumo.
A fossa séptica biodigestora é uma importante invenção no campo social e ambiental. Novaes recebeu por ela, em 2003, o prêmio , e se mantém até hoje como um sistema de destaque nesse ramo. Naturalmente, é a melhor opção para áreas que não apresentem ligação com a rede geral e pública de esgoto.
Para seu melhor funcionamento, as fossas sépticas biodigestoras recebem apenas o esgoto proveniente de vasos sanitários. Essa seleção procura evitar que produtos químicos (como cloro, desinfetantes e detergentes) entrem em contato com o sistema. O valor químico desses produtos pode influenciar no processo de biodigestão, gerando baixa eficiência. Normalmente, líquidos oriundos de outros espaços são levados diretamente ao segundo tanque, para o processo de filtragem.
Abaixo apresentamos uma tabela comparativa com todas as características desses três modelos de fossa:
Cuidados necessários
Na instalação, fossas devem ser implantadas em distâncias e profundidades pré-definidas. Seu tamanho pode variar conforme a necessidade e o número de moradores que atenderá. Pode ser desenvolvida em diferentes materiais e tipos, como as fossas pré-moldadas e as feitas no local.
Após instalada, evita-se que garagens, jardins, piscinas e calçadas sejam planejados em áreas próximas, já que podem comprometer sua estruturação. Recomenda-se também estar alerta para que materiais não biodegradáveis invadam seu sistema, assim como o descarte de óleo em ralos: ambos podem prejudicar o fluxo e entupir suas canalizações.
Como mencionamos ao decorrer do artigo, fossas sépticas são sistemas que devem ser tratados com cuidado. Elas são as responsáveis por manipular materiais altamente poluentes, que podem causar inúmeros efeitos negativos ao contato humano ou ambiental. Fossas que necessitem de assistência devem ser visitadas por profissionais especializados a cada 6 meses.
É importante se atentar na regularidade das manutenções, independentemente se a fossa é biodigestora ou não. Para garantir um desempenho vantajoso, estar em contato com empresas do ramo é essencial. Novamente reiteramos que fossas sépticas são soluções paliativas, recomendadas apenas na ausência de um tratamento de esgoto público.